Autoeducação é um dos pilares fundamentais da pedagogia montessoriana e também um dos mais passíveis de interpretações errôneas.
Muitas pessoas acreditam que quando Maria Montessori nos direciona a seguir a criança – no sentido de que a criança sabe internamente o que é importante para o seu próprio desenvolvimento – está sendo sugerido dar a criança o poder de escolher fazer somente o que quer e quando quer.
Esse total protagonismo da criança sem respaldo de um adulto ou guia, é uma concepção equivocada, porque a curiosidade natural e o anseio por desenvolver-se inerente da criança – além de não ser tolhido – precisa ser incentivado.
Esse preparo e encorajamento cabe ao adulto educador e é imprescindível compreender as fases de desenvolvimento infantil, o cérebro da criança e os períodos sensíveis etc., a fim de que o trabalho ofertado seja consonante às necessidades da criança, individualmente. Porque embora existam marcos, cada criança é única.
A partir da observação do adulto e do preparo do ambiente a criança é capaz de elevar essa curiosidade a status de conhecimento, teórico e prático.
O respeito, a autonomia e a liberdade dentro de limites são basilares no método e essa liberdade de escolha vem acompanhada por responsabilidades, seja quanto aos comportamentos, trabalhos montessorianos, as regras e a rotina escolar, sejam nas demandas cotidianas dentro de casa, com a família.
Sabemos que todo ser humano nasce com capacidade de aprendizado, o bebê além de tudo o que descobre com a visão, audição, olfato, paladar, tudo o que vê, ouve e sente, passa pela descoberta dos movimentos, lá quando balança os bracinhos ou na descoberta das mãozinhas e pezinhos, aprende a rolar, sentar, engatinhar, andar, falar! Tudo a partir de estímulos internos (sequência maturacional biológica e física) e externos (ambiente e adulto preparados).
Ou seja, na autoeducação da criança é necessário um ambiente preparado, construído pelo adulto, baseado nas demandas infantis, que permitam a aprender, pode ser observando outras crianças e adultos (sim, observar respeitosamente o trabalho do outro também é trabalho), pode ser manipulando esse material/atividade após sua apresentação (pois tudo tem um objetivo de desenvolvimento).
Mas o que difere o método aqui é que a criança o faz sem ser cerceada, interrompida, qualificada com elogios ou desqualificada com críticas. Ela pode concentrar-se plenamente nessa oportunidade de desenvolver suas habilidades, compreensão do mundo, consciência de si e do outro.
Em Montessori a autoeducação é possível porque é permitido as crianças tentarem. É permitido que busquem a superação de suas dificuldades (uma de cada vez), paulatinamente. Mas e se a criança errar? O erro é visto como parte do processo e não algo a ser evitado, demonizado. Por vezes, o próprio material mostrará a ela, com a peça que sobra ou não encaixa adequadamente. Em outras, é até ali que a criança pôde ir e ela fez as abstrações que lhe eram possíveis no momento. Por poder utilizar o material pelo tempo que desejar, por quantas vezes desejar, essa chance de aprender todo o conceito ou de corrigir o erro chega para a criança como um insight da própria criança e não porque o adulto disse (externamente à criança).
Montessori apenas observou que essa “bússola” natural da criança continua acompanhando-a no decorrer da vida, a Autoeducação, nada mais é do que seguir a criança e o que ela nos mostra, preparar as ferramentas e o ambiente e abster-se de intervir, e só assim, proporcionar o seu máximo desenvolvimento.